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Ajudando os Mundurukus a demarcarem a Terra Indígena Sawré Muybu |
Emerson
Prates, atual coordenador do Grupo de Voluntários do Greenpeace de Porto
Alegre, esteve na aldeia dos índios Mundurukus, junto com outros voluntários do
Greenpeace Brasil e Internacional, para participar do acampamento que a ONG
está realizando no local para dar início à campanha “Salve o Coração da
Amazônia”.
O objetivo desta nova campanha, é ajudar os índios na demarcação de suas terras e também pressionar o governo federal a não levar adiante o plano da construção das barragens hidrelétricas no Rio Tapajós.
O objetivo desta nova campanha, é ajudar os índios na demarcação de suas terras e também pressionar o governo federal a não levar adiante o plano da construção das barragens hidrelétricas no Rio Tapajós.
Após
seu regresso, Emerson Prates concedeu a seguinte entrevista ao voluntário Valdeci C. de Souza para relatar sua
experiência na floresta e a importância desta nova campanha.
Green Poa: Que
motivação levou você a participar do Grupo de Voluntários do Greenpeace de
Porto Alegre?
Emerson Prates: Desde menino sempre tive
preocupações com o ambientalismo. Tanto, que era fã de programas da National
Geografic ou programas afins. Aos 35
anos, percebi que deveria fazer alguma coisa de efetivo em favor da natureza. Principalmente
para inspirar os meus filhos, que na época, estavam com 15 anos (casal de
gêmeos) e uma menina de 11 anos. Acreditava (e ainda acredito), que o exemplo é
melhor que a palavra. Assim, quando surgiu a oportunidade, me tornei voluntário
do Greenpeace.
Green Poa: Neste
período como voluntário na defesa do meio ambiente, que ação ou campanha foi a
mais gratificante?
Emerson Prates: Já participei de inúmeras
campanhas e ações como voluntário, mas a ação que mais me emocionou foi ter
participado da atividade em uma escola em Gravataí, RS. Nesta oportunidade,
realizamos com as crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, brincadeiras
lúdicas e educativas com temas relacionados ao respeito ao meio ambiente e aos
animais. Foi gratificante ver a reação,
participação e engajamento de todos com esta atividade. Inclusive, recebemos
uma singela homenagem da gurizada.
Outra
atividade interessante de citar, foi a parceria com o Fórum Ambiental de Porto
Alegre onde o grupo foi convidado a fazer um levantamento das árvores tombadas
na grande tempestade que assolou Porto Alegre no dia 29 de janeiro deste ano. O
objetivo da ação seria o replantio de algumas árvores tombadas. Foi legal acompanhar todo o processo, como o
levantamento de espécies raras e nativas da nossa região que, não fosse este
trabalho, seriam simplesmente cortadas e descartadas como lenha. Este trabalho foi importante para provar,
inclusive para os órgãos ambientais locais, que árvores caídas não estão mortas
e hoje, algumas delas, estão de pé e bem vivas.
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Árvore centenária no coração da Amazônia |
Emerson Prates: A receptividade dos estudantes,
tanto do ensino médio como do ensino fundamental têm sido a melhor
possível. Acredito que este trabalho é
importante, na medida em que, após as palestras, alguns jovens mostram
interesse em acompanhar mais de perto estas questões e também participarem
ativamente como ambientalistas. Todavia, é preciso que este trabalho do Projeto
Escola continue para que possamos, cada vez mais, inspirar esta juventude para
a importância das práticas sustentáveis.
Infelizmente, em termos pedagógicos, algumas escolas estão precisando
trabalhar mais a questão ambiental de forma mais sistemática e com
aprofundamento. Tenho notado, que as escolas que fazem este trabalho de forma
mais séria, os alunos são mais engajados e participativos.
Green Poa: Como
você recebeu o convite para participar do acampamento junto à reserva indígena
dos Mundurukus?
Emerson Prates: Em razão das minhas inúmeras
atividades como voluntário e também das minhas capacitações como ativista, fui
convidado para integrar a equipe do Greenpeace que estaria junto com a tribo
indígena dos Mundurukus na aldeia Sawré Muybu para, junto com a tribo, evitar a
construção das hidrelétricas no Rio Tapajós. Outra ação importante também, foi
no apoio aos Mundurukus a fazerem a sua autodemarcação de terras para
pressionar o governo federal a homologar a demarcação de suas terras.
Green Poa: Conte-nos
um pouco sobre a rotina diária no acampamento. Quais eram tuas
responsabilidades, o que fazias nas horas de folga, etc...
Emerson Prates: Fui designado a trabalhar na
cozinha do acampamento na supervisão da grande cozinheira (e agora grande amiga),
Iracema. Também, me voluntariei para
trabalhar em outras atividades para o bom desempenho do grupo como um todo na
aldeia. Entre estas atividades, realizei por lá expedições para demarcações de
terras, transporte de mantimentos, toras de madeiras para construções em geral,
limpeza de banheiros... Enfim, tudo o que precisava ser feito, todo mundo
participava como grupo unido. Lazer mesmo, só apreciar a natureza, constatar a
convivência harmoniosa dos índios com aquele lugar paradisíaco e ouvir os
pássaros. E alguns banhos de rios e igarapés que ninguém é de ferro!
Green Poa: Que
experiência você trouxe na bagagem?
Emerson Prates: São várias experiências que trago
da floresta e da convivência com este povo fantástico que são os Mundurukus.
Primeiramente gostaria de citar o espírito de coleguismo e de harmonia de todos
os voluntários lá presentes. Apesar de cada um ter sua função específica dentro
da aldeia e da logística de funcionamento do local, todos atuavam em todas as
áreas e se voluntariavam a realizar outras tarefas além do estipulado
“oficialmente”. A hierarquia de chefia e de comando que existe para a
realização de uma campanha deste porte, se diluía no dia-a-dia, na medida em que
cada um estava preocupado – não só com a sua atividade, mas com a harmonia do
todo. A convivência era pacífica e harmoniosa. Este aspecto de grupo foi muito
legal ter vivenciado.
Outra
experiência interessante, foi a convivência com os índios e perceber a
necessidade urgente que temos de preservar suas terras, seus valores e
costumes. Para quem vem de uma cidade grande como Porto Alegre e, de repente se
depara com a vasta Amazônia, uma outra realidade se abre e um outro povo se
apresenta. Foi gratificante sentir na pele os valores do verdadeiro
ambientalismo que sempre defendi e luto para preservar. Ali na aldeia, tive a
clara noção de como é fácil a convivência com a mãe natureza e como é possível
ter uma vida sustentável. A parte
teórica do ambientalismo é interessante, mas assistir, ao vivo, esta convivência
foi emocionante. Falar em respeito ao
próximo, à floresta, aos animais e toda esta biodiversidade deste país
continental é legal, mas vivenciar e participar disso tudo foram experiências de uma vida toda. Tornei-me índio nestes dias e quero levar esta
experiência para o meu grupo e para a minha luta por um país mais verde e
sustentável.
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Voluntariado e Ativismo: Só aventura |
Emerson Prates: A maior dificuldade que
encontrei, foi deixar de lado minha ideia de vida de homem branco. Afinal, nossas
culturas e tempo de ação são bem diferentes. Não tem como chegar lá e exigir
ação para determinada atividade se este não é o momento deles. Ou tentar impor
alguma coisa. Tive que trabalhar de acordo com o pulsar da aldeia. Abandonar
cultura do homem branco não é fácil, assim como também não deve estar sendo
fácil, a convivência conosco. Tudo é uma questão de convivência e respeito.
Eles aceitam nossa ajuda, nosso trabalho e empenho em preservar suas terras,
mas dentro de suas possibilidades como índios donos das terras. Eles são os
donos, nós estamos ali somente para ajudar.
Green Poa: Qual a
importância desta campanha a nível nacional e mundial e como ela será
desenvolvida pelo Grupo de Voluntários do Greenpeace de Porto Alegre?
Emerson Prates: A campanha, a nível mundial e
nacional, é importante na medida em que torna pública a necessidade de
preservar este importante bioma que é a Amazônia. Não é possível que o governo
federal queira destruir tudo isso para a construção de barragens e usinas
hidrelétricas no coração da floresta e não respeitar os índios, a fauna e a
flora local. A respeito das atividades a serem desenvolvidas pelo grupo de
voluntários do Greenpeace de Porto Alegre, será dar continuidade desta campanha
no Estado através de nossas atividades nos pontos verdes, projeto escola e
mostrar ao público a necessidade de assinarem a petição para que o governo
federal não venha a construir as barragens no Rio Tapajós. Será um trabalho de
formiguinha, assim como diz a tradução da palavra Munduruku: Formiga Vermelha.
Green Poa: Quais os
impactos ambientais e sociais na construção destas barragens hidrelétricas em
pleno coração da Amazônia?
Emerson Prates: Os impactos ambientais e sociais
são imensos. No relatório “A Luta Pelo Rio da Vida” divulgado pelo Greenpeace,
constam dez crimes ambientais que serão cometidos na construção destas
barragens (páginas 12 e 13). Só pra citar alguns, diria que a extinção de
plantas e animais endêmicos, remoção dos grupos indígenas de suas terras e a
paralisação da homologação da Terra Indígena Sawré Muyby (que já se arrasta há
décadas) são alguns malefícios destas barragens em pleno coração da Amazônia.
Green Poa: Conte-nos
um fato ou ação que ficará marcado na tua memória.
Emerson Prates: Dar de cara com uma cobra coral
verdadeira numa das trilhas que realizei em plena floresta. Inesquecível também foi a ferocidade dos
mosquitos Pium. Nunca vi tantos em ação... Repelente para eles era tempero!
Falei em aranha? Meu Deus! Enfim, viver na floresta com a
bicharada no seu habitat natural foi tri, mas não foi fácil (risos).
Green Poa: Tuas
considerações finais.
Emerson Prates: Não posso deixar de falar na
importância de ter conhecido e convivido estes dias, com o verdadeiro “Heroi da
Floresta”, Sr. Paulo Adário. Um sujeito boa praça que luta pela preservação da
floresta 24 horas por dia. No meu segundo dia na floresta, participei de uma
reunião com os índios em que o Paulo Adário fez uma breve prelação a todos e,
de forma emocionante, citou que ali estavam reunidos os verdadeiros guerreiros
da floresta: Os índios Mundurukus e os Guerreiros do Arco-Íris. Foi um momento
em que percebi que estava no lugar certo. Participar desta luta em defesa da
Amazônia e de toda esta biodiversidade não tem preço.
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