sexta-feira, 24 de maio de 2019

Rio Grande do Sul: um celeiro de commodities



    
Voluntárias Luciele e Carolina do Greenpeace Porto Alegre e
Representantes do INGÁ, AGAPAN, SAG, ACOMAZS e
Movimento Preserva Z. Sul e AMIGOS DA TERRA

No mês de abril de 2019, o Greenpeace Porto Alegre, juntamente com demais movimentos e entidades ambientais locais, especialmente o Movimento Preserva Zona Sul, dedicou-se a pesquisar de perto a instalação de mineradoras no Estado do Rio Grande do Sul.
Exposição Copelmi
Comitê de Bacias






Denise Moreira e Luciele Souza Mov. Preserva Z.Sul

Desse modo, se fez presente na exposição da Mineradora Chinesa Copelmi, quando esta apresentou seu projeto, no comitê de Bacias em Porto Alegre, para instalação da Mina Guaíba nos municípios de  Charqueadas e Eldorado do Sul. 





O grupo esteve presente também na roda de conversa presidida pelo Botânico renomado, Dr. Paulo Brack, da entidade Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (INGÁ), realizada na Assembléia Legislativa do Estado.









Além disso, assistiu-se ao cinedebate “Dossiê Viventes”, exposto de forma gratuita em vários locais da cidade de Porto Alegre, incluindo a ESA/OAB (Escola Superior de Advocacia da OAB).

Resumidamente a Copelmi expôs que o seu projeto de exploração da região é de 30 (trinta) anos, entre o período de 2020 a 2050. Em 2050, devolveria a área compensando com o plantio de soja, assim como fez no município de Butiá, RS. Disse que pouco afetará Porto Alegre, já que não seria esta a posição dos ventos para espalhar poeira ou particulados. Também afirmou que, ao que tudo indica, terão que rebaixar o lençol freático na região, desviarão dois arroios, que os rejeitos serão lançados no Rio Jacuí e que terão que transferir famílias assentadas na área.




Cacique Claudio da Tribo Guarani
Eldorado do Sul
Reparou-se que, a própria Copelmi, em que pese, durante sua exposição tentar vender a imagem de um bom negócio, especialmente na geração de empregos diretos e indiretos, deixou escapar a questão do reassentamento, do rebaixamento do lençol freático, do desvio dos arroios e da poluição do Rio Jacuí.

Entretanto, como bem frisou o Prof. Paulo Brack em sua palestra, grande parte da mineração no Brasil envolve exportação de matéria prima ou commodities, como o ferro, o alumínio e se prevê o chumbo em Caçapava do Sul. E, além disso, as mineradoras também não observam o previsto na Convenção 169 da OIT, que prevê consulta a respeito de atividades de grande impacto sobre territórios de povos indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais.



Paulo Brack



No caso, o projeto Mina Guaíba de mineração de carvão, com a possível extração de 166 milhões de toneladas de carvão mineral,  tem imenso impacto na área de entorno do Parque Estadual do Delta do Jacuí, em Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, onde ocorrem espécies ameaçadas de extinção e sobre área de população de agricultores assentados e produtores de arroz orgânico. Aliás, além de os agricultores e outras populações locais diretamente afetadas não serem consultados sequer fazem parte do estudo socioambiental da mineradora. 






O projeto também desconsiderou a poluição de gases de enxofre, como o SO2, e toda a degradação da paisagem, da vegetação, do solo e também a poeira de carvão desde a extração por tratores, britagem e transporte pelas caçambas que circulariam na área, como vem ocorrendo em outras áreas da principal empresa promotora do projeto. Além disso, os metais pesados tóxicos, presentes no carvão mineral, como chumbo, cádmio e chumbo, não aparecem no EIA/RIMA da Mina Guaíba, mesmo estando entre os mais prejudiciais e o que ocorrem em maiores níveis tanto nas áreas de mineração como nas emissões das usinas térmicas a carvão.


Agricultores no INCRA

E não é só. “Energias eólica e solar são mais baratas do que a produção de energia provinda do carvão do RS, que possui mais de 50% de cinzas e altos índices de enxofre e metais pesados”, afirma Brack.

Pela fuligem os agricultores da região não podem produzir produtos orgânicos. Neste aspecto o assentamento Apolônio Carvalho é um dos maiores prejudicados já que vive da agricultura orgânica. 


Por essa razão, os agricultores do Assentamento Apolino estiveram em frente ao INCRA para dizer não à mineração. 

A exploração da área, que inclui parceria da Copelmi com empresa de mineração e produção de energia chinesa ganhou mais força depois da publicação da Lei Estadual Nº 15047, em novembro de 2017, criada pelo Governo Sartori, em que instituiu a Política Estadual do Carvão Mineral e o Polo Carboquímico do Rio Grande do Sul. Já em julho de 2018, o então governador, José Ivo Sartori, regulamentou através de decreto, a referida lei. Foi assinado ainda um protocolo de intenções com a empresa Copelmi Mineração para instalação de um complexo carboquímico na região do Baixo Jacuí.





Para Sartori, a ocasião serve para fortalecer a idéia de que o papel do Estado não é minerar carvão, mas contar com parceiros que tenham a expertise necessária para o desenvolvimento do setor. “Nosso estado possui uma riqueza energética muito grande. Temos 89% das reservas brasileiras, o que, em termos de energia, é três vezes mais do que o país possui em petróleo. Precisamos, mais do que nunca, transformar essas reservas em empregos e receita para o Estado”, afirmou[i].


Nesse compasso, Caçapava do Sul, outro município gaúcho alvo das mineradoras, em áreas prioritárias para a biodiversidade no Pampa (Port. N. 9 do MMA, 2007), vem, desde 2016, sendo ameaçada pela Votorantim Metais, agora denominada Nexa, para explorar metais, especialmente o chumbo (36 mil toneladas), zinco e cobre. O chumbo é um metal pesado tóxico que contamina os cursos d’água e causa diversas doenças à saúde humana. 

Atualmente, em Caçapava do Sul, a mineração de calcário está sem controle da FEPAM, e além de enormes crateras, a poluição é tamanha que é possível, em lugares onde já se explora tal minério, os telhados das casas e a vegetação do entorno se tornarem esbranquiçados pela poeira de calcário, que afeta também o aparelho respiratório das pessoas e a biodiversidade.


Outro caso de ameaça é representado pelo projeto de exploração mineral de fosfato, em Lavras do Sul, outro município com belas paisagens com campos naturais e pecuária familiar no coração do pampa gaúcho. O projeto Fosfato Três Estradas pretende instalar uma mina de fosfato que deve funcionar por 50 anos no município. 

indígena da Região
Camaquã

A região de Lavras do Sul é de cabeceira do rio Santa Maria e fica há cerca de 10 km das cabeceiras do rio Camaquã. Juntas, as Bacias Hidrográficas compreendem 33 municípios onde existe grande concentração de Povos e Comunidades Tradicionais, famílias pecuaristas e Assentamentos da Reforma Agrária[ii].

Buscando denunciar tamanho impacto ambiental ao povo gaúcho quanto a tantas minas já instaladas, bem como a tantos projetos para novas instalações de mineradoras no Estado, ambientalistas produziram o dossiê viventes. O dossiê foca-se, especialmente, sobre a região onde o bioma pampa é o mais conservado (Caçapava do Sul, Camaquã e Bagé), em que só na região de Caçapava do Sul há 150 pedidos de novas lavras





Bioma Pampa

O dossiê é resultado de mais de dois anos de estudos e mobilizações, o filme exibe as razões e as paixões das comunidades para se opor à instalação da mineradora em suas terras, trazendo depoimentos de pesquisadores e de lideranças do movimento de resistência. Mais de 40 entrevistas resumem o debate sobre o projeto, cujo processo de licenciamento segue tramitando na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), acompanhado pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal.

Francisco Milanez
AGAPAN
O filme conta com a participação das comunidades e povos tradicionais do Pampa, diretamente impactados pelo projeto de mineração, e também de cientistas, autoridades acadêmicas de renome nacional e internacional, entre elas o biólogo e arquiteto Francisco Milanez, também presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e o botânico, Paulo Brack, do Ingá, especialistas nos ecossistemas dos campos sulinos, organizações, políticos e atores sociais de inúmeros municípios engajados na luta.

Conforme os entrevistados, o Bioma pampa da região conta 3.000 (três mil) espécies, sendo muitas endêmicas, como os cactos, e, portanto, não se adaptam a outra região.

"A mina tira tudo quando instalada e não há compensação", informa Milanez.  A área de Camaquã e Caçapava é a região mais antiga com 6 milhões de anos e rica em guaritas.

Além de ser patrimônio histórico cultural e ambiental reconhecida na Constituição Federal e na Constituição Estadual gaúcha.

Bioma Pampa
Cenário de filmes
O Rio Camaquã muito foi palco de filmes. A Mineração acaba com a água. 

O povo quer garantir o que já tem: água limpa, ambiente sem poluição, agricultura orgânica e turismo na região, declarada Enildo, quilombola, morador da região.


A idéia, em Caçapava, Bagé e Camaquã, assim como em Eldorado do Sul, é a exploração de chumbo para mandar pra China. A mineração é a atividade que mais mata no Brasil, seja na hora da construção das minas (havendo, inclusive, previsão de aposentadoria aos 15 anos de trabalho haja vista o grau danoso à saúde do trabalhador), como pela contaminação pelos rios, plantas e ar, declara de forma peremptória, Milanez. 



Disse ainda o biólogo, que a mineração a céu aberto libera cobre e níquel e vai para as plantas que, por sua vez, vai para os animais que se alimentam delas. Até mesmo para quem consome a carne desses animais há uma desvalorização do produto pelo consumidor. E não só isso, as abelhas morrem.

Rio Camaquã
Bioma Pampa
Cenário de filmes

Afirmou ainda, o presidente da AGAPAN, que não existe mineração sustentável. Pode-se dizer, segundo ele, que a mesma se compara a energia nuclear. Denuncia que não há estudo de análise de risco da mineração, ferindo, assim, o princípio da precaução, previsto no Direito Ambiental. 

A água das pilhas da mina que escorre vai pros rios. Milanez, ao indagar a Votorantim (Nexa) sobre o fato da região sul ter épocas de inverno intenso em que chove 15 (quinze) dias contínuos e para onde escorreria tal vazão de água, os técnicos da mineradora não souberam responder.  





Relato sobre o Peru
O Rio Camaquã desagua na lagoa dos patos. A contaminação pode ser silenciosa e atingir várias gerações, enfatiza Milanez, citando o Peru como exemplo.

Lá, meninos estão contaminados com chumbo em grau três, haja vista a instalação de Mineradora da Votorantim. 

O chumbo é biocumulativo confundido com cálcio e não sai do organismo. Causa problemas mentais, sexuais e fetais.

A exploração de minérios é um engodo. Depoimentos de economistas do Tribunal de Contas do Estado RS afirmam que sequer a exploração de minério é boa economicamente, já que as empresas estrangeiras que é o caso da Chinesa e Peruana, aqui citadas, não pagam impostos. É vendida à população uma falsa idéia de desenvolvimento.


Adv Delton

O Advogado, especialista em Direito dos Desastres, Dr. Delton W. de Carvalho, afirmou ser de suma importância quantificar o ecossistema para os governantes verem que não vale a pena o desenvolvimento.

Além disso, como lembrou Paulo Brack: “A ONU ADVERTE HÁ ANOS SOBRE OS PERIGOS DO USO DO CARVÃO MINERAL. A MINA GUAÍBA É A MAIOR AMEAÇA À QUALIDADE AMBIENTAL DA REGIÃO METROPOLITANA, E CONTRIBUI ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, INEVITAVELMENTE”. 




área pretendida para instalação
Mina Guaíba 




Pois como dito pelo ex servidor público da Fundação Estadual do Meio Ambiente do RS (FEPAM), o Senhor Pacheco, o carvão é um dos grandes geradores dos gases do efeito estufa provocando o aquecimento global. 




No Acordo de Paris (COP21), o Brasil se comprometeu a promover em 2025 uma redução de suas emissões de GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005, aumentando a redução em 2030 para 43% abaixo dos níveis de emissão de 2005.[iii]

Vinte países em todo o mundo, através da COP21, comprometeram-se a cortar emissões de carbono, como o carvão, até 2030. Nesse sentido significa que a China terá que deixar de lado a queima de carvão mineral, uma de suas principais fontes de energia, todavia a reporta ao Brasil, mais precisamente ao Estado do Rio Grande do Sul, explorando o bioma pampa até 2050, através de sua empresa Copelmi.

pontos para exploração de carvão no RS











Como afirmado por Paulo Brack, a pretensão é que o Rio Grande do Sul vire barriga de aluguel pra exportação de commodites. Urge, segundo o Botânico, que toda a população gaúcha diga não à mega mineração.

Voluntária Carolina
Não fosse todo o potencial prejuízo causado pela mineração, o Rio Grande do Sul também vem sendo alvo de plantações de soja e eucalipto.  

As próprias mineradoras mencionam que, em compensação às áreas degradadas, usam do plantio de soja.



Quanto ao eucalipto, cita-se, a CMPC, Celulose RioGrandense, empresa que tem gerado muita polêmica e desgaste à população de Guaíba, especialmente ao Balneário Alegria. 

A CPMC já possui R$ 1 milhão de reais em multa por danos ambientais à comunidade local, todavia, pouco se importa com tal fato, já que vai instalar filial nos municípios de Rio Grande e Pelotas. 


Num verdadeiro retrocesso a uma época, devido ao avanço da tecnologia, em que se está abolindo o papel, além de ser a responsável pelo plantio de inúmeras áreas do exótico eucalipto. 

Nosso Rio Grande precisa urgente da mobilização popular para evitar que vire um grande celeiro de commodities de soja, eucalipto e hulha negra.

Fotos: Rosilene Moraes, Adeles Bordin e Luciele de Souza.
Texto: Luciele de Souza






[i]https://estado.rs.gov.br/sartori-assina-decreto-que-cria-politica-do-carvao-mineral-e-polo-carboquimico-do-rio-grande-do-sul
[ii]https://www.brasildefato.com.br/2019/04/30/mineracao-em-lavras-do-sul-avanca-silenciando-comunidade-local-aponta-manifesto/
[iii] REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Pretendida contribuição nacionalmente determinada para consecução do objetivo da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (INDC). 2015. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/BRASIL-iNDC-portugues.pdf>. 






Um comentário:

Anônimo disse...

O cidadão que pede para fazer uma reportagem dessas teria que, no mínimo, entender o que é mineração ao invés de ficar pregando hipocrisia. Mineração não é garimpo!! As pessoas, que não entendem o que é “mineração”, deveriam voltar para idade da Pedra, (Opa, “pedra” tbm remonta à mineração). Essas pessoas deveriam parar de utilizar computadores, tablets, TVs cinema, satélites, eletroeletrônicos, pilhas, baterias e energia elétrica. Aliás, essas pessoas pensam que os fios e condutores são feitos de que? Elas deveriam parar de utilizar remédios, maquiagem, plásticos, aparelhos cirúrgicos, próteses, fertilizantes, roupas sintéticas, tintas, talheres, máquinas em geral e etc. Elas deveriam morar em cavernas, pois as casas em que elas vivem são feitas de que? Elas deveriam utilizar cavalos e bois como meio de transporte, pois a maioria dos meios de transporte (bicicletas, aviões, carros, trens, navios) são feitos de ligas metálicas, a não ser que sejam construídos de madeira e as pessoas utilizem os pés para impulsiona-los, igual ao desenho dos Flintsones.